confesso que adoro teu jeito
quando tenta ficar melancólica
e faz cara de intelectual dos anos 60
como se fosse vizinha de sartre
ou jogasse pétanque com foucault
gola rolê e esse penteado bobo
de esquerdista boba
e não falo da boca pra fora
realmente gosto do teu jeito
de esquerdista démodé
o tal olhar soturno
sexy, blasé, decadente
deitada na chaise long da saleta
um livro apoiado no peito
a mercê de dedos sujos de queijo
ouço o virar de páginas densas
falsamente densas
afinal tudo é falso hoje em dia
e vivemos na infinita emulação
do que deveríamos viver
mas eu adoro o prazer que tiramos
mesmo das coisas falsas
das nossas falsas vidas
de nossos falsos sentimentos
falsas melancolias
como essa tua tristeza de novela
ao cruzar o olhar com a luz
âmbar de teu copo de whisky
e girar o que resta do gelo
com um dedo engordurado